domingo, dezembro 07, 2008

Onde estive?

Há mais de dois anos em silêncio... Onde estive? Não importa, de fato não importa.

Que importa se eu tenha ido a festas ciganas, igrejas, raves, concertos, rituais de magia, giras de santo e de Exu? Dizê-lo não comunicaria as marcas de meus pés ou de meu rosto.

Também não é importante dizer em que camas deitei, ou que homens e mulheres se deitaram em minha cama. Isso não me faria mais real. E sequer me faria mais mulher.

Por essa razão, volto às palavras respeitando o silêncio desses anos. Porque a realidade vaza para além de toda expressão, para o plano mavioso do que não é dizível, para a exatidão efêmera de tudo quanto é inefável...

3 comentários:

Ícaro Beranger disse...

Que belo retorno. Nada como celebrar a incomunicabilidade das nossas palavras diante da vida, que está além de toda expressão.

Lembrei-me de uns versos de Sophia de Melo Breyner Andersen. Infelizmente, lembrou-me por alto. Assim, vou pesquisá-los e quando os encontrar, exatos, venho aqui deixá-los pra ti.

Mayara Oliveira (Colérica) disse...

sim sim é raduam...

vc é a jessica do teatro?

beijoo

gostei de seus textos ;)

APC disse...

"Dizê-lo não comunicaria as marcas de meus pés ou de meu rosto."

Não, de facto. Ou de fato!...

Se os passos tivessem sido seguidos, acompanhados de outros passos; o rosto contemplado, tocado por outro rosto... Isso sim, deixaria a marca cuja falta marca mais do que a palavra expressa. Volta-se às palavras, apenas porque não sobeja mais nada.

Ressoa muito, esse último parágrafo, riquíssimo! Obrigada!

Um Feliz Natal para ti! :-)