terça-feira, dezembro 23, 2008

Meu mapa de riscos

Eu não tenho afinidades com a exatidão. Meu campo semântico não é este. Admiro a perfeição quase poética dos números como um recém-nascido admira uma sinfonia: sem indiferença, mas também sem entender o que se passa.

Talvez por essa razão, eu não saiba calcular riscos. Apaixono-me pela beleza de rostos inexatos, sorrisos apinhados de promessas, barbas por fazer... Aventuro-me com signos e senões, incertezas de amor e juras impossíveis. Evito prometer-me ao amanhã. Consagro-me ao instante.

Sou dada ao instantâneo e ao fugaz. Os prazeres da carne alimentam o espírito. O orgasmo e o êxtase místico me são parelhos. Guardo nos descaminhos de minha pele todos os altares. Comungo a hóstia de muitas carnes, nos corpos de todos os meus Cristos.

Se sou pregada à cruz da desilusão, bebo o vinho tinto de sangue que celebra o torpor; depois misturo hóstia e absinto. E lembro nas palavras as dores, para esquecê-las em mim. Assim é meu mapa de riscos.

domingo, dezembro 07, 2008

Onde estive?

Há mais de dois anos em silêncio... Onde estive? Não importa, de fato não importa.

Que importa se eu tenha ido a festas ciganas, igrejas, raves, concertos, rituais de magia, giras de santo e de Exu? Dizê-lo não comunicaria as marcas de meus pés ou de meu rosto.

Também não é importante dizer em que camas deitei, ou que homens e mulheres se deitaram em minha cama. Isso não me faria mais real. E sequer me faria mais mulher.

Por essa razão, volto às palavras respeitando o silêncio desses anos. Porque a realidade vaza para além de toda expressão, para o plano mavioso do que não é dizível, para a exatidão efêmera de tudo quanto é inefável...