domingo, setembro 17, 2006

Eu te procuro...

Eu te procuro atrás das sombras. Na cama em que nos deitamos, não te acho. Sob os lençóis, não estás... Sinto falta de tua presença física. Sinto falta de ser tua.

Mas a falta maior que sinto não é essa. Sinto falta de habitar o cerne de tuas palavras. Sinto falta da tua poesia latente azulando os meus céus. Sinto falta de teus telefonemas às duas da manhã, da tua voz, do teu sotaque.

Eu sei bem a forma como estas canções que agora oiço te tocariam. Como tua face se elevaria num grande sorriso com o soar do acordeão, ante a melancólica beleza destes sons. Esta é nossa atmosfera onírica, poética, sonora, transcendental. Somos e soamos quase à exatidão destes sons.
Mas tu não estás aqui para ouvi-los comigo e dentro de mim...

sábado, setembro 16, 2006

Embebedando a solidão

O espírito do vinho desce como um diabo queimando e afagando a minha solidão. Ao fundo, homens que parecem mais embriagados do que eu cantam uma melodia num francês que, obviamente, desentendo de todo. Estou nua nos meus sentimentos. E sinto, sinto, sinto...

"I'm lost but I'm not stranded yet", me canta um dos homens, dans sa paranoïa ou dans sa schizophrénia, num inglês que transborda seu sotaque francófono. Inundo-me no pensamento de que os homens talvez estejam tocando para mim e talvez me vejam, nua, sentada em minha cama. Ou que talvez a campônia que pisou nas uvas que se transformaram neste vinho que tomo esteja me adentrando com este dionisíaco líquido rubro. Desejo-os, a campônia e os franseses perdus, sensualmente, na minha embriaguez.

Mas nem a companhia imaginada desses seres me faz menos só...

Palavra de Mulher

(Chico Buarque)
Vou voltar
Haja o que houver, eu vou voltar
Já te deixei jurando nunca mais olhar para trás
Palavra de mulher, eu vou voltar
Posso até
Sair de bar em bar, falar besteira
E me enganar
Com qualquer um deitar
A noite inteira
Eu vou te amar

Vou chegar
A qualquer hora ao meu lugar
E se uma outra pretendia um dia te roubar
Dispensa essa vadia
Eu vou voltar
Vou subir
A nossa escada, a escada, a escada, a escada
Meu amor, eu vou partir
De novo e sempre, feito viciada
Eu vou voltar

Pode ser
Que a nossa história
Seja mais uma quimera
E pode o nosso teto, a Lapa, o Rio desabar
Pode ser
Que passe o nosso tempo
Como qualquer primavera
Espera
Me espera
Eu vou voltar